Saudade de mãe

Coloquei o filtro da arte naquela cena comum e a luz que até então estava escondida veio surpreender-me com seu poder de claridade. A mulher simples, mãos calejadas de lida rotineira, mulher que aprendeu a curar as dores do mundo a partir dos meus joelhos esfolados de quedas e estripulias. Aquela mulher, minha mãe, rosto iluminado por uma labareda que tinha origem no fogão de lenha, trazia consigo o dom de me devolver a calma que a vida tantas vezes insistiu em me roubar. Aquela cena, mulher, fogão de lenha, panela preta, escondendo a brancura de um arroz feito na hora, é uma das cenas mais preciosas, que meu coração não soube esquecer. Saudade de mãe é coisa sem jeito, chega quando menos imaginamos: um cheiro, uma melodia, uma palavra, uma imagem e eis que o cordão do tempo, nos convida ao retorno a infância, como se um fio nos costurasse de novo ao colo da mulher que primeiro nos segurou na vida e agora pudesse nos regenerar. Saudade de mãe é ponte que nos favorece um retorno a nós mesmos. Travessia que nos recorda uma identidade muitas vezes esquecida, perdida na pressa que nos leva. Saudade de mãe é devolução, é ato que restitui o que se parte; é luz que sinaliza o local do porto, é voz no ouvido a nos acalmar nas madrugadas de desespero e solidão através de uma frase simples: “dorme meu filho, dorme” Hoje, nesse dia em que a vida me fez criança de novo; neste instante em que esta cena feliz tomou conta de mim, uma única palavra eu quero dizer Oh, minha mãe que saudade eu sinto de você!

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